Quem não quer ser considerado gente boa, persona grata e benquista por todos? Quem não quer ser feliz, realizado e em paz consigo mesmo? Existem muitas propostas por aí
para sugerindo o que fazer para alcançar a libertação pessoal, a paz interior, a maturidade emocional e o reconhecimento social. Posso dizer
sem medo de errar, que a maioria delas procuram levar cada um a melhorar sua
auto-estima e ter uma auto-imagem positiva.
Não faltam livros e mensagens que
buscam levá-lo a descobrir o seu potencial e confiar em si mesmo na busca de
sua própria realização. Afinal as chaves de nosso sucesso estão em nossas
próprias mãos. Tudo o que se propõe gira
em torno do EGO e para ele.
Diante dessa realidade tenho
pensado que todas essas soluções são um tremendo engano e que não há nada mais
escravizante do que o fortalecimento do ego e a defesa dele. Quantas mágoas ,
brigas e discussões acumulamos todos os dias, simplesmente porque não podemos aceitar sermos
diminuídos por ninguém, estarmos errados em nossas razões e ficarmos de lado em
algumas situações. A verdade é que a fome do ego não tem limites, não há
saciedade para sermos elogiados, considerados, valorizados e confirmados.
Quanta energia emocional gastamos
para sermos aceitos e termos um imagem digna de confiança e louvores. Nos
esgotamos escondendo nossos erros e defeitos, embora eles teimem em aparecer
(nossos familiares que o digam), tentando demonstrar nossas melhores qualidades
aos olhos de todos. Quanta hipocrisia desfila nos eventos sociais dos quais
participamos, onde somos só sorrisos e expressões amigáveis e amáveis. Como
seria se no mesmo evento pudesse ser mostrado
também como cada um se comportou antes de chegar, o que pensou durante e
como se comportaria depois que acabasse? Quem nunca se arrumou para ir a uma
reunião social brigando e reclamando com seus companheiros ou chegou na festa quase chorando engolindo
as lágrimas, ou foi embora engasgado com algum fato ocorrido na mesma e falando ou pensando cobras
e lagartos dos “queridos amigos” que estavam presentes?
Porquê fazemos isso? Porquê
queremos ser quem não somos e parecer com o que não parecemos? Porquê nos esforçamos
tanto por uma boa apresentação? Creio que agimos assim como uma resposta ao condicionamento à que somos expostos quando crianças. Somos rigorosamente (uns nem tanto),
SOCIALIZADOS e aprendemos que pra agradarmos o papai e a mamãe e ganharmos
algumas recompensas, temos que esconder nosso ódio, nossa raiva, nosso descontentamento e temos que fingir que amamos a todos, mesmo que não seja
verdade. Alguns aprendem tão bem que começam a acreditar que são mesmo pessoas
de uma categoria melhor. Melhor que a dos desbocados, encrenqueiros,
sentimentais e mal humorados, pessoas que consideramos desagradáveis porque não se enquadram na postura socialmente aceita e esperada.
“Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”, essas foram as
palavras de Jesus no evangelho de João, capítulo oito, versículo trinta e dois.
Sempre aprendi que esse texto se
refere a conhecer a pessoa de Jesus , porque Ele mesmo se intitulou a VERDADE.
Mas conhecer a Jesus é muito mais do que saber quem Ele foi e aceitar isso como uma realidade. Na verdade conhecer Jesus é comer Ele para dentro de si e Ele fazer
parte de você e viver em você. Ele é a VERDADE, a LUZ que ilumina as trevas e que mostra tudo como realmente é. Muitos
não o aceitaram porque Ele revelou que suas obras eram más, porque mostrou quem
realmente eram, e eles não estavam dispostos a aceitar isso. Ele veio para os
doentes, os perdidos, os maus, e se você não se considera isso ele não veio para
você!
A grande libertação pessoal é o
contrário do que dizem, ela começa com o processo de NÃO SER. Não ser nada, não
ser ninguém, não ser digno, não ser bom (Jesus disse ao jovem rico que só Deus
era bom em Marcos 10.18), não ser dono da razão, não ser melhor, não ser capaz
por si mesmo. A Verdade que nos liberta é aquela que nos mostra que somos
egoístas, cegos, maus (“vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos
filhos” Mt 7.11) e que não nos leva a esconder isso de ninguém.
O grande Mestre da Verdade nos
mostrou três personagens, o fariseu, o publicano e a criança para nos ensinar lições
libertadoras. Os fariseus foram
duramente criticados por Ele, não por suas boas ações mas pelas intenções delas,
o objetivo era o elogio e o louvor da sociedade. Foram reprovados em sua
hipocrisia, que era tão profunda que até mesmo eles acreditavam que eram a
própria mascara que usavam publicamente. Consideravam se bons, dignos, melhores
que os outros. (Lucas 18.9-14, 11.37-45). O que muitos não entendem é que o
orgulho e a soberba de se achar bonzinho, irritam mais a Deus do que um pecador
dos piores que sabe exatamente quem é. Esse está mais perto da redenção, porque
ela começa com o reconhecimemto da Verdade ao nosso respeito.O publicano, por sua vez, não é
destacado por seus pecados, e sim por sua falta de confiança em si mesmo, essa
é a verdadeira HUMILDADE. O que o liberta é assumir seus erros, sua culpa, sua completa
fragilidade e ineficiência.
Quanto à criança, em Mateus (18. 1-4), Jesus a
louva , a coloca como padrão para se destacar no Reino de Deus. Sobre esse
texto as interpretações sempre giram em torno de mostrar o lado bom da criança,
sua simplicidade, sua pronta capacidade de perdoar e sua pureza. Entretanto
basta conviver com uma criança pra perceber que seu egoísmo, sua maldade e sua
obstinação em ser o centro das atenções caminham lado a lado ou até suplantam
seu “lado bom”. Então a que Jesus se
referia com a HUMILDADE da criança?
Arrisco-me a dizer que a maior
qualidade da criança é sua autenticidade, sua sinceridade , sua incapacidade de
fingir ser o que não é, sentir o que não sente e dizer o que não quer. Ela é
quem é, não se preocupa em ser o melhor,
mostrar o melhor, é livre da necessidade de SER ALGUÉM.
O GRANDE SEGREDO de viver uma
vida VERDADEIRA é assumir que nada somos, e admitir que
qualquer traço bom que tivermos não vem de nós mesmos, mas é CRISTO vivendo em
nós e através de nós.
A nós a VERGONHA, a ELE a GLÓRIA!!!
A gente se vê...
Danyela Batista