sábado, 15 de junho de 2013

QUANDO AS PESSOAS SE TORNAM DESCARTÁVEIS

      Tenho conhecido algumas pessoas ou até mesmo casais e famílias que se comportam como  ilhas no meio social.  Geralmente não se abrem a relacionamentos, salvo por curtos espaços de tempo,  mantém uma vida isolada e solitária e alguns constantemente estão mudando de casa, cidade, grupo religioso e amigos. Olhando à distância tudo parece normal, afinal a vida hoje em dia oferece tantas opções de ocupações e de lazeres individualistas que se não conhecermos a realidade dessas pessoas um pouco mais de perto, aparentemente pensaremos que estão bem e são felizes assim.
      Não vou afirmar que não exista ninguém que viva relativamente bem dessa forma, mas a verdadeira realidade emocional e espiritual dessas pessoas na maioria das vezes é desajustada, depressiva e triste. São desconfiados, paranóicos em relação a intenção de outras pessoas, amargurados e contém uma longa lista de desafetos familiares e amigos que foram sendo abandonados ao longo de suas vidas tal qual objetos descartáveis que são jogados fora quando já foram usados. Muitos se comportam como eternas vítimas de tudo e de todos e seu discurso está sempre pronto a culpar as demais pessoas em relação a sua solidão e fracasso em se relacionar.
      Mas o que de fato acontece para que essas pessoas se tornem tão prontas a descartar as outras de seu convívio? Uma boa explicação pode ser encontrada na biologia e psicologia combinadas. O certo é que nós seres humanos somos dotados de um sistema de defesa que inclui comportamentos de esquiva ou fuga para quando nos sentimos ameaçados e em perigo e nesses casos o que acontece é como se o sistema dessas pessoas estivesse em alerta máximo analisando qualquer aproximação humana como uma ameaça. Ocorre um desajuste de informação interna pois todas as situações sociais e pessoas são vistos da mesma forma, como se fossem exatamente iguais. Todos são vistos como não confiáveis, maus e prontos a ferir sem compaixão.
      As razões para que este sistema de defesa tenha se tornado o centro controlador dessas pessoas também são importantes de serem entendidas. Pode-se dizer que uma boa parte dessas pessoas teve uma infância difícil e foi decepcionada por aqueles de quem esperava cuidado e amor. Outros não tiveram problemas de infância, mas foram criados e influenciados por pessoas que tiveram e já tinham adotado esse modo de vida transmitindo-o aos seus filhos. Alguns ainda não tiveram problemas na infância e nem pais paranóicos, mas foram poupados de decepções e ensinados que a vida deveria ser um paraíso e as pessoas perfeitas em seu trato com eles. Quando descobrem que as pessoas nos frustram, magoam e não agem exatamente como pensamos e desejamos todo o tempo, passam a não aceitar quem possa errar e começam a selecionar pessoas em sua busca pelos perfeitos que não poderão machucá-las. Se tornam duras e intolerantes com os menores erros alheios e um vacilo é capaz de fazer com que elas excluam uma pessoa por completo da noite para o dia e joguem mais alguém na “lixeira dos traidores”.
      Não haveria motivo de preocupação com esse tipo de comportamento se o fim não fosse trágico. Algumas décadas agindo assim e a vida começa a ficar vazia, sem sentido com um acúmulo imenso de sentimentos negativos e um desespero cada vez maior por paz interior que parece não ser encontrada em nenhum lugar. O mundo se torna um lugar ameaçador e alguns começam a pensar até em suicídio. A frustração se torna tão grande porque as impressões dessas pessoas sempre parecem se confirmar, afinal onde vão encontrar um lugar no qual as pessoas não pisam na bola vez ou outra? É preciso tentar ajudar essas pessoas antes que seja muito tarde e é preciso vigiar para nunca se tornar uma delas.
Alguns passos contra isso podem ser dados. O primeiro é  entender e já esperar que as outras pessoas vão cometer erros em seus relacionamentos conosco e que na verdade, devemos ser tolerantes uns com os outros porque todos somos iguais na imperfeição. Não podemos exigir de ninguém o que nós mesmos não somos capazes de fazer; que é acertar cem por cento das vezes. Outro passo importante é estar disposto a dar novas chances sempre. Um erro pode aproximar as pessoas e tornar o relacionamento ainda mais verdadeiro e melhor se este for superado. As mesmas pessoas que nos magoam, poderão ainda nos deixar muito felizes se permitirmos que isso aconteça.
      Neste momento eu me lembro da história de Jesus Cristo e Pedro que também foi um traidor. Pedro errou feio com o mestre, um erro imperdoável na visão de muitas pessoas se tivesse acontecido com alguma delas. Imagine depois de três anos de amizade intensa, alguém dizer que não te conhece na hora que você mais precisa de apoio? A postura de Cristo é o ápice desse entendimento que conhece o ser humano e sabe que melhores pessoas podem nascer quando seus erros são plenamente perdoados. Foi Jesus quem o procurou, foi Ele que ofereceu o perdão e a resposta de Pedro depois disso foi viver e morrer pelo mestre com a maior lealdade possível. Mas e se Pedro não tivesse tido essa chance?
      Porém convém dizer que nossas defesas existem por um motivo e não devemos ser ingênuos ao ponto de pensar que não existem pessoas que se entregaram ao mal e que estão dispostas a ferir sem remorso aqueles que entram em seu caminho. Sim, infelizmente elas existem, mas felizmente não são a maioria das pessoas. Ainda assim precisamos entender que nossa postura jamais deve ser de descartar cruelmente essas pessoas, pois assim estaríamos agindo como elas. Pessoas não são lixo, não devemos nutrir por elas ódio e desprezo mesmo que sejam más. Apenas devemos nos afastar como proteção para que não nos destruam, entregando elas a Deus e pedindo misericórdia para que possam ser transformadas por Ele.
     O perdão não deve conhecer limites, mas em alguns casos extremos a convivência destrutiva sim. Afinal quem vai deixar a mão no fogo, ou não vai correr do leão? Conheço uma mulher que se casou e logo conheceu o lado violento, obscuro e frio de seu companheiro. Como era uma mulher cristã suportou por algum tempo, perdoou algumas surras, traições, mas por fim percebeu que não adiantava lutar por quem não deseja mudança. Se afastou e seguiu em frente com suas duas filhas pequenas. Alguns anos depois fica não tanto chocada ao ver no jornal seu ex-marido sendo preso por denúncia de abuso sexual à crianças e adolescentes. Aliviada percebe que realmente tomou a atitude certa e que se não tivesse se afastado talvez suas próprias filhas teriam feito parte daquela triste lista.

     Como já foi dito acima, ainda bem que esses seres adoecidos moral-psicológica-espiritual e socialmente não são a maioria das pessoas.  Por isso, devemos tomar o cuidado de não confundir sujeitos normais com os anormais e acabar por nos privar do convívio humano saudável, apesar de difícil e sujeito à transtornos, mas extremamente compensador ao longo dos anos.   
      Ninguém consegue sobreviver sozinho, somos seres sociais e quanto mais melhor. Quanto mais pessoas conseguirmos conservar ao nosso lado ao longo de nossa história mais saudáveis emocional e espiritualmente seremos porque isso significa que teremos conseguido aceitar, tolerar e perdoar nossos companheiros para seguir em frente. E o resultado de tudo isso é uma vivência compartilhada, rica de significados, crescimento e profundidade.

A gente se vê...

Danyela Batista

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Melhores que Deus?

     Todos sabemos o efeito das palavras em nós. Inúmeras vezes somos abatidos como soldados alvejados num campo de batalha, simplesmente por frases que ouvimos . O problema é que achamos que somente o que ouvimos nos prejudica e ignoramos o fato de que o que falamos também pode ser extremamente mortal pra nós mesmos. O apóstolo Pedro aprendeu a dura lição de não controlar o que saía dos seus lábios e nos deu o seguinte conselho “Pois quem quer amar a vida e ver dias felizes refreie a língua do mal e evitem que seus lábios falem engano.” (I Pedro3.10).  O que seria esse mal? O que seria esse engano?

     Tenho percebido que muitos comentários que fazemos são extremamente parciais e não levam em conta todos fatos. Nos gabamos de falar sobre fatos, mas será um fato completo ouvir uma frase sobre alguém ou saber de uma ação praticada por uma pessoa por boca de terceiros ? Ou até mesmo quando presenciamos uma cena ou vemos um ato a certa distância de nós, é possível que estejamos vendo tudo que se relaciona com aquela ação?  A questão é que atos ou fatos são sempre externos e nunca levam em conta o elemento invisível por trás de cada comportamento humano;  as intenções.

      O coração do homem é sondado e visto apenas por Deus (Jeremias 17.10).  Uma mesma cena, uma mãe corrigindo seu filho, pode ter duas realidades invisíveis completamente opostas. Numa realidade, a mãe o corrige porque está com raiva, porque  ele está atrapalhando o seu descanso; o que seria uma motivação egoísta. Em outra realidade a mãe está contra a sua própria vontade de não corrigir, esforçando-se para ensinar o filho uma lição que será importante em sua vida, tendo assim uma motivação altruísta. Até que ponto podemos “enxergar” corretamente as motivações alheias?

     Quando somos controlados unicamente por nosso coração, sem a presença do Espírito de Deus na nossa vida, tudo se torna um pretexto para instilarmos o veneno que possuímos. Temos uma fonte de maldade dentro de nós e é com ela que observamos os outros. Não importa quem sejamos, todos somos iguais nesse ponto (Mateus 15.18,19). Até mesmo a Palavra de Deus se torna arma que mata em nossas mãos, ao invés de remédio que cura. A utilizamos somente para condenar, julgar e expor e nos esquecemos que o propósito maior dela é trazer vida  (IICor.3.6)

      Sob falsos pretextos de ajudar ou falar a verdade, fazemos comentários maldosos e maliciosos, que na realidade apenas denigrem o nosso semelhante. Nos calamos ante as boas ações, mas multiplicamos palavras sobre os defeitos e erros. Para nos justificar, falamos mal do próximo. Para nos sentirmos melhores sobre nós mesmos, diminuímos os outros. O egoísmo que reina em nós não deixa espaço pra mais ninguém e nós temos de ser o centro sempre. Ninguém pode estar à nossa frente. Se o outro for superior em algo, logo descobrimos um meio de quebrar-lhe as pernas para que fique do nosso tamanho. A inveja, o ciúme, o ressentimento e o egoísmo é o que muitas vezes origina as nossas palavras sobre os outros .

     O grande problema e resultado de tudo isso é que ao ferirmos os outros, nós ferimos a nós mesmos. Deus nos criou para desfrutar de comunhão (Salmos 133.1) e nos alegrarmos com ela. O verdadeiro prazer que vem de Deus jamais será sentido por uma pessoa que prefere a  solidão egoísta, porquê a presença de Deus em nós só é real quando vivemos harmoniosamente e com os corações cheios de amor (João 17.23; Ijoão4.12, 13).  

     Cada dia temos observado mais e mais pessoas se afastando uns dos outros usando como justificativas os pecados alheios. Nas redes de relacionamentos é cada vez mais comum lermos frases que justificam a desconfiança, o isolamento em vez da aproximação e a tolerância. Alguns querendo ser muito santos retomam o tempo do antigo testamento e relegam  os demais à impureza e indignos de se aproximarem. Esquecem-se de que aqueles ensinamentos cumpriram seus propósitos e que o Santo, o filho do Altíssimo veio e usou Suas mãos para tocar os impuros, e usou o Seus pés para se aproximar dos pecadores, enfim usou todo Seu corpo e Sua vida para fazer uma ponte entre eles e Deus. Deus queria estar muito próximo de mim, de você, de todos... Somos melhores que Deus para rejeitarmos as pessoas por quem Ele morreu? Parece que pensamos que sim... enquanto Ele constrói uma ponte, nós erguemos muros!

A gente se vê…
Danyela Batista