sábado, 21 de abril de 2012

VOU CONTAR MEUS PODRES




      Vou contar meus podres de hoje, da semana, do mês, ...do último ano! Se eu apostasse , poderia apostar alto  que ninguém divulgou, publicou ou espalhou algo do tipo no seu blog, e-mail, conversas, redes sociais ou outros meios  de comunicação. Afinal quem gosta de manchar sua imagem, fazer auto-marketing negativo, revelar seu lado feio, obscuro, reprovável e nada atraente?
      Gostamos mesmo é de falar dos outros, de preferência sobre o que há de pior neles. A fofoca , companheira milenar de homens e mulheres, ganha um novo perfil : eletrônico, rápido e de escala global. Graças a nossa agilidade em “denunciar”, “combater o mal” e “fiscalizar o mundo”, os pecados alheios ganham notoriedade  tão rápido quanto um clique no mouse.
      Interessante é que tentamos disfarçar o nosso prazer ante a ruína alheia , mas que acaba sendo denunciado pela compulsão  com que temos em propagar esse tipo de notícia. Justificativas não faltam para os (insaciáveis) modernos devoradores de pecados. Indignação social, conscientização da população, repúdio moral e defesa da fé, figuram entre os mais “respeitáveis motivos” para as transmissões dos sórdidos fatos.
      Fico pensando naquelas palavras de Jesus, dirigidas a um grupo raivoso que fora atraído pela divulgação boca a boca de que uma mulher fora apanhada em flagrante adultério. Me pego a imaginar   que era um grupinho que começara pequeno, talvez uns três ou quatro, mas que após apoderar-se da PECADORA  e ir arrastando-a pelas ruas logo começou a crescer. Quase escuto alguém a perguntar :
- Hei você sabe o que é aquilo ali, o que estão fazendo empurrando aquela mulher?   
-  Parece que é a esposa do José, acho que pegaram ela com outro. Vamos lá ver o que vão fazer. Se for ter apedrejamento a gente ajuda, afinal é nossa obrigação moral.
      Qualquer semelhança conosco não é mera coincidência, afinal em defesa da verdade e justiça sentimos que temos algo muito sério a fazer,ou seja,  ‘matar’ sem dó e  nem piedade todos os transgressores  das   leis  utilizando  vários tipos de “pedras”.  Quanto mais repugnante é o pecado, mais liberdade sentimos para sermos   duros, cruéis e sem misericórdia contra seu autor.
      Diante desse quadro as palavras  de Jesus se fazem tão atuais como da primeira vez que foram ditas: “...aquele que de entre vós que está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela” (Jo 8.7). Interessante que do ponto de vista do Deus-homem a autoridade de condenar e punir pertence àquele que nunca errou, nunca falhou. Sendo assim, algum de nós poderíamos assumir tal posição?
      Em outro momento o Mestre nos recomenda o antídoto contra essa sede  pelos pecados do próximo, “hipócrita tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o argueiro do olho do teu irmão” (Lc6.42).  O imperativo é atentarmos pra nossa vida antes de cuidarmos da alheia. Quantos se escondem atrás dos erros cometidos por outros, para não terem que olhar pra si  e nesse olhar descobrirem quem são?  Quantos gastam horas de conversas (se somadas ao longo dos anos) falando sobre  fazendas,  jatinhos ou outros frutos da corrupção alheia enquanto se “esquecem” que estão devendo a mercearia da esquina, as prestações do carro e o cartão de crédito.  Outros  perdem meses e até anos, vivendo pra desvendar e denunciar as derrapadas morais e espirituais de gente conhecida e de prestígio, enquanto que suas próprias vidas e famílias são negligenciadas de inúmeras formas.
      O mais triste é  que muitas dessas pessoas se consideram profetas a serviço de Deus, usando suas espadas cortantes  para combater o mal.  A questão é: será que suas ações não contrariam um pouco a própria palavra que defendem? O apóstolo Paulo nos adverte que nossa luta não é contra a carne ou sangue, ou seja, contra pessoas (Ef 6.12.)  Também doutrinando a igreja, nos ensina que não devemos expor as causas que temos contra irmãos publicamente, senão entre os irmãos somente. O que dizer dos apologistas que falam de tudo e todos na internet?
      Não só Paulo tem algo a dizer, mas o próprio Cristo faz um solene alerta: “ ...ai daquele homem por quem o escândalo vem...” (Mt 18.7). Será que não sabem esses, que seus combates fazem mais mal que bem, e que suas atitudes impedem  tantos outros de se aproximarem e partilharem da fé? Será que não percebem que suas ações ao invés de gerarem santidade, que é o que dizem buscar, de fato produzem maior impiedade, divisões e amargura? Talvez ainda não entenderam que a ira humana não produz a justiça de Deus (Tg1.20) e que as armas que devemos usar não devem ser carnais e sim espirituais, poderosas EM DEUS (2 Cor10.4). 
     Esses “guerreiros de Deus”, pode ser que não saibam que a maior arma espiritual que podem usar para combater as trevas , talvez sejam a que menos usem: a oração. O Senhor Jesus passava a noite orando e pela manhã saía a anunciar o Reino de Deus. Pregava aos homens a salvação,  o arrependimento, os valores do Reino e  a vida abundante que veio trazer. Denunciava o pecado? Sim! Mas de maneira geral, social e coletiva (até porque sabia que TODOS pecaram, que não tinha Um justo sequer) ; nunca citou nomes particulares e revelou pecados pessoais de líderes.  
      Sei que mesmo com todos esses versículos  citados, muitos desses “defensores da fé”  dificilmente abririam mão de suas ideias, até porque como dizem os próprios teólogos; a  Bíblia pode ser a maior fonte de heresias, desde que se use ela sem o devido cuidado de interpretá-la segundo as regras de exegese e hermenêutica corretas.  Posso imaginar  uma infinidade de textos bíblicos que poderiam ser usados para justificar todas essas ações apologéticas, mas falta me aqui tempo e espaço para descrevê-las e debatê-las.
      Finalizo voltando à lei fundamental do Cristianismo, àquela que é considerada a maior de todas, a regra de ouro da fé Cristã: a lei do AMOR.  O amor está presente em tudo que Deus faz, afinal ELE É AMOR. Até mesmo o juízo de Deus é um juízo de amor, que visa a edificação e restauração e não a mera punição. Portanto quando nos atrevermos a colocarmo-nos no lugar de juízes, não nos esqueçamos das vestimentas apropriadas para tal: primeiro, uma total AUTO-CONSCIÊNCIA de NOSSOS próprios pecados, que deve gerar em nós uma profunda HUMILDADE ante a nossa caída condição humana; segundo: ORAÇÂO e SÚPLICA abundante por todas essas pessoas transgressoras, pedindo a Deus MISERICÓRDIA sobre a vida delas e restauração moral e espiritual.  Assim vestidos, sejamos os primeiros a dar o exemplo de uma limpeza moral e ética e só falemos dos outros depois que tivermos exposto todos os nossos pecados primeiro.

Que Deus nos ajude!!
A gente se vê....
Danyela Batista