Vou contar meus podres de hoje, da
semana, do mês, ...do último ano! Se eu apostasse , poderia apostar alto que ninguém divulgou, publicou ou espalhou
algo do tipo no seu blog, e-mail, conversas, redes sociais ou outros meios de comunicação. Afinal quem gosta de manchar
sua imagem, fazer auto-marketing negativo, revelar seu lado feio, obscuro,
reprovável e nada atraente?
Gostamos mesmo é de falar dos outros, de
preferência sobre o que há de pior neles. A fofoca , companheira milenar de
homens e mulheres, ganha um novo perfil : eletrônico, rápido e de escala
global. Graças a nossa agilidade em “denunciar”, “combater o mal” e “fiscalizar
o mundo”, os pecados alheios ganham notoriedade
tão rápido quanto um clique no mouse.
Interessante é que tentamos disfarçar o
nosso prazer ante a ruína alheia , mas que acaba sendo denunciado pela
compulsão com que temos em propagar esse
tipo de notícia. Justificativas não faltam para os (insaciáveis) modernos
devoradores de pecados. Indignação social, conscientização da população,
repúdio moral e defesa da fé, figuram entre os mais “respeitáveis motivos” para
as transmissões dos sórdidos fatos.
Fico pensando naquelas palavras de Jesus,
dirigidas a um grupo raivoso que fora atraído pela divulgação boca a boca de
que uma mulher fora apanhada em flagrante adultério. Me pego a imaginar que era um grupinho que começara pequeno,
talvez uns três ou quatro, mas que após apoderar-se da PECADORA e ir arrastando-a pelas ruas logo começou a
crescer. Quase escuto alguém a perguntar :
- Hei você sabe o que é aquilo
ali, o que estão fazendo empurrando aquela mulher?
-
Parece que é a esposa do José, acho que pegaram ela com outro. Vamos lá
ver o que vão fazer. Se for ter apedrejamento a gente ajuda, afinal é nossa
obrigação moral.
Qualquer semelhança conosco não é mera
coincidência, afinal em defesa da verdade e justiça sentimos que temos algo
muito sério a fazer,ou seja, ‘matar’ sem
dó e nem piedade todos os transgressores das leis utilizando
vários tipos de “pedras”. Quanto mais repugnante é o pecado, mais
liberdade sentimos para sermos duros, cruéis e sem misericórdia contra seu
autor.
Diante desse quadro as palavras de Jesus se fazem tão atuais como da primeira
vez que foram ditas: “...aquele que de entre vós que está sem pecado seja o
primeiro que atire pedra contra ela” (Jo 8.7). Interessante que do ponto de
vista do Deus-homem a autoridade de condenar e punir pertence àquele que nunca
errou, nunca falhou. Sendo assim, algum de nós poderíamos assumir tal posição?
Em outro momento o Mestre nos recomenda o
antídoto contra essa sede pelos pecados
do próximo, “hipócrita tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem
para tirar o argueiro do olho do teu irmão” (Lc6.42). O imperativo é atentarmos pra nossa vida
antes de cuidarmos da alheia. Quantos se escondem atrás dos erros cometidos por
outros, para não terem que olhar pra si
e nesse olhar descobrirem quem são?
Quantos gastam horas de conversas (se somadas ao longo dos anos) falando
sobre fazendas, jatinhos ou outros frutos da corrupção alheia
enquanto se “esquecem” que estão devendo a mercearia da esquina, as prestações
do carro e o cartão de crédito. Outros perdem meses e até anos, vivendo pra
desvendar e denunciar as derrapadas morais e espirituais de gente conhecida e
de prestígio, enquanto que suas próprias vidas e famílias são negligenciadas de
inúmeras formas.
O mais triste é que muitas dessas pessoas se consideram
profetas a serviço de Deus, usando suas espadas cortantes para combater o mal. A questão é: será que suas ações não
contrariam um pouco a própria palavra que defendem? O apóstolo Paulo nos
adverte que nossa luta não é contra a carne ou sangue, ou seja, contra pessoas
(Ef 6.12.) Também doutrinando a igreja, nos
ensina que não devemos expor as causas que temos contra irmãos publicamente,
senão entre os irmãos somente. O que dizer dos apologistas que falam de tudo e
todos na internet?
Não só Paulo tem algo a dizer, mas o
próprio Cristo faz um solene alerta: “ ...ai daquele homem por quem o escândalo
vem...” (Mt 18.7). Será que não sabem esses, que seus combates fazem mais mal
que bem, e que suas atitudes impedem tantos outros de se aproximarem e partilharem
da fé? Será que não percebem que suas ações ao invés de gerarem santidade, que
é o que dizem buscar, de fato produzem maior impiedade, divisões e amargura?
Talvez ainda não entenderam que a ira humana não produz a justiça de Deus
(Tg1.20) e que as armas que devemos usar não devem ser carnais e sim
espirituais, poderosas EM DEUS (2 Cor10.4).
Esses “guerreiros de Deus”, pode ser que
não saibam que a maior arma espiritual que podem usar para combater as trevas ,
talvez sejam a que menos usem: a oração. O Senhor Jesus passava a noite orando
e pela manhã saía a anunciar o Reino de Deus. Pregava aos homens a salvação, o arrependimento, os valores do Reino e a vida abundante que veio trazer. Denunciava o
pecado? Sim! Mas de maneira geral, social e coletiva (até porque sabia que
TODOS pecaram, que não tinha Um justo sequer) ; nunca citou nomes particulares
e revelou pecados pessoais de líderes.
Sei que mesmo com todos esses versículos citados, muitos desses “defensores da fé” dificilmente abririam mão de suas ideias, até
porque como dizem os próprios teólogos; a Bíblia pode ser a maior fonte de heresias, desde
que se use ela sem o devido cuidado de interpretá-la segundo as regras de
exegese e hermenêutica corretas. Posso
imaginar uma infinidade de textos
bíblicos que poderiam ser usados para justificar todas essas ações
apologéticas, mas falta me aqui tempo e espaço para descrevê-las e debatê-las.
Finalizo voltando à lei fundamental do Cristianismo, àquela que é
considerada a maior de todas, a regra de ouro da fé Cristã: a lei do AMOR. O amor está presente em tudo que Deus faz,
afinal ELE É AMOR. Até mesmo o juízo de Deus é um juízo de amor, que visa a
edificação e restauração e não a mera punição. Portanto quando nos atrevermos a
colocarmo-nos no lugar de juízes, não nos esqueçamos das vestimentas
apropriadas para tal: primeiro, uma total AUTO-CONSCIÊNCIA de NOSSOS próprios
pecados, que deve gerar em nós uma profunda HUMILDADE ante a nossa caída
condição humana; segundo: ORAÇÂO e SÚPLICA abundante por todas essas pessoas transgressoras,
pedindo a Deus MISERICÓRDIA sobre a vida delas e restauração moral e espiritual. Assim vestidos, sejamos os primeiros a dar o
exemplo de uma limpeza moral e ética e só falemos dos outros depois que
tivermos exposto todos os nossos pecados primeiro.
Que Deus nos ajude!!
A gente se vê....
Danyela Batista